quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O mal como mestre


A doença me aparta de mim mesmo.
Oculto o tempo orgânico da vida
Mostra-se a face corrupta.
Retalhado o amor expansivo
Diminui-se a visão para fora
mas adentro tudo se agiganta.
Percebo órgãos e impulsos
Desejo as pazes e os sonos.
Onde estava todo esse corpo
quando os dias eram os mesmos?
Misteriosa semente dos pensamentos
A mazela me constrange ao mundo.
Distúrbio que revela
Moléstia que alteia
Achaque que arvora.
Nada parece o mesmo
Nem mesmo aquele céu risonho
Cuja timidez manifesta me devora.
Anil puro e desperto,
nuvens esparsas,
algum sonho que é meu se enfurece
abatido nesses ares firmados
— limites enfermos do globo —
padece, meu Deus, na tosse cinzenta!

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© Odisseia do adeus
Maira Gall