segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Criança


Já era noite
Avançada a hora
E o ar estava úmido dentro da Catedral de São Sebastião.
Os longos bancos se entrincheiravam vazios
As figuras sóbrias murmuravam verdades esquecidas.
Havia um garoto prostrado sobre o genuflexório
Contrito em sua lamentação discreta
Ao fundo, toda a terra do cacau gemia de dor.
Um canto obscuro se insinuava pelo salão
Fruto da aflição, balbucio espasmódico.
De quantos dissabores se nutriu a canção
Até ser entoada na casa do Pai?
Um clérigo se aproximava do altar vagarosamente
Mysterium tremendum...
"Há algo de terrível nesse lugar".
Volveu-se ao pequeno, quase velado em sua miudeza
Exigiu sua partida
"Vai, menino, não há coisa boa na madrugada"
A criança rompia em lágrimas vítreas
"Mas ainda são tantos os que sofrem!"

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© Odisseia do adeus
Maira Gall