segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Solipsismo baiano



"Quero que digam: ele sente profundamente, ele sente agudamente".
Escreveu sobre si, uma vez, Van Gogh.
Ao contrário de Van Gogh, eu sou baiano.
E, sendo baiano,
tenho a mania de sofrer em versos.
Assim,
eu e ele
quisemos coisas muito diferentes.
Meu coração é alguma coisa que sente,
esparramado pelo mundo.
O dele, algum mundo que se sente,
acompanhado pela morte.
Na Bahia não se morrem os corações,
petrificados os corpos
definhados os músculos
e corroída a carne.
Resta além de tudo uma alma errante
dentro dos becos, no alto dos morros,
no mistério das esquinas...
Ensurdecedora terra de passados vivos!
“Quem sentirá tanto como eu a minha agonia?”
Perguntou, Boca a Boca, Nana Caymmi,
e sua voz quis verdadeiramente amar.
Não há outro grito mais grave
do que o que se eleva em sobressalto
de um amor tão trágico às coisas da vida.
Vige o mar revolto e não pisca o baiano:
"não há sonho mais lindo que a sua terra".
Não há coisa tão mágica e pueril,
não há nada tão gigante que não retorne,
mesmo em longínqua lembrança,
a ser sonhada pela terra que pariu Amado
e lapidou o Poeta do povo
para a eternidade.
Para sempre isso, baiano sozinho
Solipsismo baiano,
não entendo os "eus" do mundo,
Só sei o que é amar e ser triste.

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Maira Gall