"Quero que digam: ele sente
profundamente, ele sente agudamente".
Escreveu sobre si, uma vez, Van
Gogh.
Ao contrário de Van Gogh, eu sou
baiano.
E, sendo baiano,
tenho a mania de sofrer em versos.
Assim,
eu e ele
quisemos coisas muito diferentes.
Meu coração é alguma coisa que
sente,
esparramado pelo mundo.
O dele, algum mundo que se sente,
acompanhado pela morte.
Na Bahia não se morrem os corações,
petrificados os corpos
definhados os músculos
e corroída a carne.
Resta além de tudo uma alma errante
dentro dos becos, no alto dos
morros,
no mistério das esquinas...
Ensurdecedora terra de passados
vivos!
“Quem sentirá tanto como eu a minha
agonia?”
Perguntou, Boca a Boca, Nana
Caymmi,
e sua voz quis verdadeiramente amar.
Não há outro grito mais grave
do que o que se eleva em sobressalto
de um amor tão trágico às coisas da
vida.
Vige o mar revolto e não pisca o
baiano:
"não há sonho mais lindo que a
sua terra".
Não há coisa tão mágica e pueril,
não há nada tão gigante que não
retorne,
mesmo em longínqua lembrança,
a ser sonhada pela terra que pariu
Amado
e lapidou o Poeta do povo
para a eternidade.
Para sempre isso, baiano sozinho
Solipsismo baiano,
não entendo os "eus" do
mundo,
Só sei o que é amar e ser triste.
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