Escrever sem
estar tocado por nada em especial.
Sem estar
singularmente mobilizado.
Sem nenhum
ímpeto orgânico ou supra-orgânico,
(um chamado
divino talvez?)
uma volúpia
alucinada
ou um desejo
ardente por exortações.
Escrever sem
um folheto,
sem uma
tinta composta por sangue e certeza,
ainda mais
certeza do que fluido,
talvez até
uma verdade em plasma.
Escrever sem
uma perspectiva de rubrica,
sem um
cochicho de Deus,
sem um apelo
sofrido.
Eu que tanto
quero o âmago.
Eu que tanto
admiro a superação.
Eu que tanto
mortifico a felicidade.
Nada me toca
em especial.
Escrevo por
uma operação de tédio,
pelo tédio
mesmo e suas implicações para a vida.
Não sinto
fadiga, melancolia ou solidão.
Escrevo
porque me cobro ocupações para o tempo,
porque vivo
sob sua égide e me angustia não o respeitar.
Ajo assim,
como escrevo.
Um constante
mergulho na covardia.
Não me
proponho nunca a questionar esse fastio
e quebrar o
baluarte de minha resignação.
Sou um
medíocre?
Sou um
qualquer?
Sou uma
fraude?
Nem mesmo
estas obsessões me apetecem afinal.
Já tive
tantas compulsões em minha vida...
E uma
obstinação para me elevar aos mais altos patamares!
Terei me
enganado todo este tempo?
Eu que
esperava tanto de mim...
Eu que
cultivei as maiores vaidades....
Quanto mais
me interiorizei, quanto mais me filiei ao conteúdo bruto de minha
subjetividade, não pude encontrar mais do que uns míseros trocados.
Sou um
engano…
Em busca de
qualquer coisa grandiosa me deparei com um muro.
E este muro
era e é a superficialidade radical de meu espírito.
Quebrei-o
pelo apelo ao abismo e não havia nada.
Não sou
nada, não tenho nada e nada posso fazer.
Tudo o que
me resta são essas operações desmotivadas.
Um lamento
insípido e rudimentar, mal estimulado.
Uma escrita
sem fogo algum, sem raios.
Um desdém,
uma ironia, um cuspe gripado sobre o intelecto.
Escrevo sem
que nada me toque.
Escrevo pela
minha derrota, semblante de mediocridade.
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