segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Amendoeira absoluta



À sombra da amendoeira, no alto do morro
Vovó, Dona Maura, Tia Tita, Mamãe
Quão doce era a verborragia cotidiana...
O mundo se me revelava tão prontamente!
Nas tardes tórridas em que mesmo o poeta fecharia os olhos
Para repousar sob a salvaguarda daquelas folhas ruivas.
A saudade é rubra!
Tenho também o coração vermelho daqueles dias
Nos quais minha voz era mero balbucio
E meu rosto um simples ensaio do que nunca me tornei.
Tenho os lábios corados e a pele se me escapa
O pensamento cetrino tinge o horizonte do que fui.
Minhas palavras saem daquelas bocas semicerradas
E fico sendo o último apelo de Vovó antes de escurecer
Ou o céu cujo escarlate esparramado precedia as dezoito.
Fico sendo a meiguice de minhas irmãs ainda moças
Ou o riso do meu primo em sua infinita pilhéria.
Saudade purpúrea...
Sofrem em mim os passados de todos!
E se me tornam cantos e choros de um girassol carminado
E dão seiva à rosa encarnada que nascerá amanhã
Cujo sangue sustenta meu íntimo carmesim
O centro oculto de um destino
Meu contínuo e sincero coração de menino.

Nenhum comentário

Postar um comentário

© Odisseia do adeus
Maira Gall