Voltei a ler o Testamento, de
Manuel Bandeira
(Já escrevi o meu uma vez,
ou uma centena de vezes?)
E retorno ao sentimento lânguido
das flores simplesmente mortas.
Procuro “meu filho que não nasceu”
em meu peito.
Gosto igualmente de crianças,
mas talvez não tanto ao ponto de as
gestar em intimidade.
Venho a mim e me oponho ao poeta:
tenho também essa coisa da poesia?
Essa coisa que arrebata ao seio do
destino?
Essa coisa que suspende a alma sobre
os homens
e se apieda, e se lisonjeia, e se
compadece?
Eu não sei, hei de fazer um
testamento diferente.
De meus outros cem, perdi as
notícias.
Foram ao fim do mundo, aos bueiros,
como tantas outras coisas que já
fui.
Morri ontem quando deitei sozinho e
estive triste,
e hoje revejo os pontos de uma folha
em branco.
Faço dessa folha o meu legado e a
rasura de um futuro.
Da rasura nasce uma queixa que se
enternece em uma prece.
Desta prece uma aposta que se eleva
até o mito.
E o mito, a aposta, a prece, a
queixa, a rasura e o futuro não são nada.
Meu testamento sendo um nada cem
vezes,
a solidão, um nada que se constrange,
meu devaneio, uma poesia que se
percebe só.
Harakiri lírico, mil lutas eu não lutei.
Campo infrutífero, nenhuma terra
brotou de mim.
Um pandemônio da Bahia até
Pernambuco...
Quero seus olhos fatigados,
Onde estás, Manuel, para me ensinar
a usar esse papel amassado?
Do poeta menor ao microscópico!
Ai, Senhor!
Perdoai!
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